De um lado, a Microsoft, que já investiu US$ 3 bilhões na OpenAI e deve anunciar novo aporte na casa dos US$ 10 bilhões nas próximas semanas. Do outro, o Google, que tem estratégias voltadas à AI desde 2016. Na visão de especialista, o avanço da tecnologia foi apresentado ao mundo e se tornou um caminho sem volta, em que usuários e empresas poderão intensificar o uso daqui pra frente, levando os sistemas de pesquisas para outros patamares
As Big Techs seguem protagonizando os noticiários neste início de 2023. Mesmo diante de crises macroeconômicas, que levaram as grandes empresas a demitirem mais de 56 mil funcionários, o destaque nas últimas semanas está pautado nos avanços da Inteligência Artificial como uma tecnologia mais acessível a usuários e empresas. Google e Microsoft, que concentraram os maiores cortes na casa de 22 mil colaboradores demitidos, também disputam uma batalha que tem como meta impor modelos de uso da AI.
De um lado, a Microsoft. Desde 2019, a gigante de tecnologia investiu US$ 3 bilhões na OpenAI, uma startup do Vale do Silício co-fundada por Elon Musk e dona do ChatGPT. A ferramenta lançada em novembro de 2022 possui mais de 100 milhões de usuários em todo o planeta e ultrapassou o TikTok como a plataforma com crescimento mais rápido da história.
Especialistas acreditam que a Microsoft deve anunciar mais investimentos, na ordem de US$ 10 bilhões nas próximas semanas, preparando terreno para mais competição com a rival Google. Além disso, a companhia vem trabalhando na implementação de recursos de AI nos seus produtos, integrando a tecnologia do ChatGPT ao buscador Bing e ao navegador Edge.
“Esta tecnologia vai remodelar praticamente todas as categorias de software, começando com a maior de todas, a pesquisa”, disse o presidente-executivo da Microsoft, Satya Nadella, a jornalistas na sede da companhia. Segundo ele, os lançamentos envolvendo AI tem como objetivo ajudar as pessoas a aproveitar melhor os recursos de internet e de pesquisa.
Do outro lado, o Google. A outra gigante de tecnologia trabalha com Inteligência Artificial há pelo menos sete anos e, em 2021, anunciou pela primeira vez o LaMDA, uma família de modelos de linguagem neural conversacional, que funcionou bem e impressionou o mercado. Até mesmo o engenheiro do Google, Blake Lemoine, afirmou na época que a AI havia adquirido consciência e alma. Em junho de 2022 o engenheiro foi afastado em uma licença remunerada após essa alegação.
Mas ao ver a rival estampar as manchetes ao lado do ChatGPT, o Google acelerou lançamentos e anunciou uma ferramenta de busca baseada em AI, o Bard. De acordo com a companhia, o sistema deve entrar em operação nas próximas semanas e tem funcionamento parecido com o ChatGPT. Entretanto, a apresentação não teve boa performance, a ferramenta entregava respostas erradas e a repercussão causou uma queda de mais de 7% nas ações do Google.
AI para todos
Na visão do Diretor de Operações para Novas Tecnologias da Digisystem, Eduardo Valverde, a corrida para quem tem o melhor algoritmo de AI já está dada há muitos anos. Mas em 2023, a forma como a OpenAI apresentou o ChatGPT rompeu a barreira de projetos empresariais que, majoritariamente, aplicavam AI sobre dados internos das companhias, voltados apenas aos clientes de sua base.
“Embora existissem várias iniciativas de AI em tecnologias embarcadas, agora, estamos percebemos um avanço, onde o usuário final interage diretamente e isso possibilitou que todos tenham visão do potencial desta tecnologia sem precisar nenhum conhecimento técnico”, diz o executivo em entrevista à Decision Report.
Ele acredita que neste ano, o uso de AI por usuários finais será intensificado, principalmente pela simplicidade de interação que se deu através da OpenAI. E essa adoção pelas empresas não vai ser determinada apenas pela pressão dos usuários, embora determinante, mas pelos potenciais casos de uso.
Em relação à guerra das Big Techs, Valverde acredita que a Microsoft está na frente, por ter um portifólio de soluções muito extenso já com uso embarcado de AI não somente em sua principal suíte de aplicativos de produtividade, mas também em seus produtos em Cloud.
“Entretanto, neste segmento as vantagens são sempre transitórias. Acredito que o Google deve repensar a forma como os usuários interagem com seu principal produto através de uma simples busca para algo mais elaborado e não com simples recomendações e anúncios. De qualquer forma, o uso da AI é um caminho sem volta. A tecnologia se apresentou à humanidade em um novo patamar, as gerações de nativos digitais irão exponenciar seu uso e aplicação”, conclui.